A fotografia pinhole está presente no Brasil desde os anos 60, mas de forma muito tímida. Nunca foi encarada com seriedade, principalmente pelos (próprios) fotógrafos brasileiros. Os trabalhos com essa técnica foram explorados mais por artistas (autoral) e pesquisadores (científicos). Infelizmente não existe um registro que reúna e discuta essa técnica (e mais precisamente essa fotografia), um levantamento histórico. Até hoje nada foi publicado além de catálogos, notas em jornais, uma ou outra citação em livro, mas nada muito consistente. Em virtude de toda essa carência, eu vim a criar a primeira publicação eletrônica em português, que foi o site/manual da pinhole (www.eba.ufmg.br/cfalieri/index.html), ativo desde 1997. Porém falta ainda um trabalho de pesquisa, um levantamento histórico, que mapeie essa atividade e aqueles que com ela se envolvem. Falta uma maior consciência por parte dos historiadores da fotografia que apenas a entende como uma atividade lúdica, introdutória em cursos de fotografia.
Hoje, com a radical mudança dos processos fotográficos, a fotografia pinhole se distancia ainda mais da nossa realidade. Os materiais e produtos fotográficos estão cada vez mais escassos no mercado, levando a fotografia a um automatismo que vai na contra-mão de um sistema artesanal e (ou) alternativo de fotografia pinhole. Isso, claro, não quer dizer que com a fotografia digital a pinhole tenha chegado ao fim. Com certeza também se é possível trabalhar com a pinhole num sistema digital, porém muda-se tudo. Mudam-se os conceitos e as práticas.
Sobre os ativistas em pinhole, foi a partir dos anos 80, com o surgimento da Internet que foi possível criar um elo, uma teia ligando várias pessoas no Brasil (e também no resto do mundo) que trabalham com fotografia estenopeica, ou pinhole. A partir de então surgiram grupos como o Lata Mágica em Porto Alegre, grupos em São Paulo (Neide Jallageas, Paulo Angerami, entre outros...), no Rio, em Belém (com o Miguel Chicaoka), Belo Horizonte (Latanet, eu + Escola de Belas Artes/UFMG). Existem hoje diversos projetos no Brasil envolvendo a fotografia de furinho, principalmente na área de educação. Falta mesmo é quem colete esses dados, reunindo as informações e defina assim a história desse processo alternativo e seus “pioneiros” da (velha) fotografia.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
Fotografia Pinhole no Brasil - 2005
O Estenopeica - Manual Prático de Fotografia Pinhole é uma publicação eletrônica (www.eba.ufmg.br/cfalieri/index.html) derivada de uma apostila que eu criei (à uns 10 anos atrás) para uma coleção didática da Editora da UFMG. É interessante observar que até hoje, nada tenha sido editado sobre esse assunto, no Brasil ou mesmo em língua portuguesa. Com o surgimento e a popularização da Internet, achei que seria interessante moldar esse trabalho em forma de site. Foi a maneira que encontrei para divulgar esse tipo de fotografia e também o meu trabalho, como fotógrafo e arte-educador. Criando em 1997, o site/manual foi pioneiro em língua portuguesa e é talvez o mais completo no gênero. Minha intenção foi criar um tratado, baseado em minhas próprias experiências, que atendesse a um público que não domina outros idiomas. Um site exclusivamente em português, que suprisse essa nossa carência. Ele é um material didático disponível a qualquer momento. Dividido em três partes: Manual, Galeria e Arquivo de Imagens. O Manual é um material didático, voltado para escolas, como assistente à professores e alunos, e inteiramente liberado para reprodução como apostila. Muitas pessoas me consultam, pedindo autorização para reproduzir o material do site e eu sempre informo que aqui, o saber é para todos, não cobramos nada! Apenas peço que não esqueçam os créditos e referências autorais. Quanto ao uso das imagens, sejam na internet ou em qualquer tipo de publicação, o interessado, deve antes nos informar. Embora seja a fotografia sem lente um assunto “restrito”, recebo uma média de 10 a 20 e-mails semanais de pessoas de diversas partes do Brasil e do mundo.
Este meu trabalho vai além, tirando dúvidas sobre fotografia, trocando informações e divulgando o trabalho de outros fotógrafos e artistas. A Galeria virtual apresenta semestralmente exposições nacionais e internacionais, com trabalhos de fotógrafos, artistas, educadores, estudantes, etc..., sendo já uma referência consagrada. Todos os trabalhos e imagens apresentados na galeria são posteriormente publicados na terceira parte que é o Arquivo. Nele estão todas as exposições que já aconteceram ao longo dos 7 anos da Galeria.
A fotografia pinhole está presente e se firmou no Brasil no início dos anos 70, primeiramente como atividade pedagógica, nas áreas de ciências (física e química) e artes (antigamente chamada educação artística). Até então, tratava-se apenas de atividades e práticas escolares, limitadas à curiosidades e brincadeiras.
É a partir dos anos 80 que a pinhole ganha fôlego dentro das escolas de comunicação e artes no Brasil. Como uma tendência mundial, a fotografia cada vez mais garantindo seu lugar no mundo e nas artes; a pinhole é talvez dentro da técnica fotográfica quem melhor expresse um sentido autoral e artístico. Ela também vai adquirindo um caráter social importante, sendo usada como uma atividade que agrega valores culturais, através de eventos comunitários como cursos, palestras, oficinas, exposições, etc.... Existe hoje no Brasil uma série de projetos onde a fotografia pinhole está inserida, seja na arte, nas atividades acadêmicas, sociais e científicas.
No campo da arte, como fotógrafo e artista visual, tenho sempre buscado na pinhole minha forma de expressão, sendo eu um dos poucos a utilizá-la sistematicamente. Outros artistas, tais como Neide Jallageas e Paulo Angerami de São Paulo, Miguel Chicaoka e Dirceu Maués no Pará, também estão sempre presentes, desenvolvendo trabalhos e divulgando essa fotografia.
Apesar de discreto, existem vários grupos atuantes e interessados nessa fotografia. A Internet favoreceu enormemente esses contatos, possibilitando a troca de informações e globalizando o conhecimento. Existem hoje na rede, centenas de sites sobre fotografia alternativa pinhole (ou estenopeica). Os contatos, automaticamente foram feitos, surgindo assim os grupos, os fóruns de debates e as comunidades específicas dessa fotografia. Foi criado até o Dia Internacional da Fotografia Pinhole, o Pinhole Day (já em sua sexta edição) que é comemorado sempre no último domingo do mês de abril. Nesta data, em todo o mundo (inclusive no Brasil), acontecem eventos onde as pessoas são levadas a fotografar com uma câmera pinhole e essas são posteriormente enviadas e divulgadas no site www.pinholeday.org. É uma grande festa.
Em resumo: a fotografia alternativa brasileira (estenopeica ou pinhole, como é mais conhecida) vem aos poucos garantindo seu lugar, graças a sua presença na educação. Num país como o Brasil, onde a leitura se resume em revistas e jornais, a opção eletrônica (site) tem um poder mais abrangente e garantido.
Este meu trabalho vai além, tirando dúvidas sobre fotografia, trocando informações e divulgando o trabalho de outros fotógrafos e artistas. A Galeria virtual apresenta semestralmente exposições nacionais e internacionais, com trabalhos de fotógrafos, artistas, educadores, estudantes, etc..., sendo já uma referência consagrada. Todos os trabalhos e imagens apresentados na galeria são posteriormente publicados na terceira parte que é o Arquivo. Nele estão todas as exposições que já aconteceram ao longo dos 7 anos da Galeria.
A fotografia pinhole está presente e se firmou no Brasil no início dos anos 70, primeiramente como atividade pedagógica, nas áreas de ciências (física e química) e artes (antigamente chamada educação artística). Até então, tratava-se apenas de atividades e práticas escolares, limitadas à curiosidades e brincadeiras.
É a partir dos anos 80 que a pinhole ganha fôlego dentro das escolas de comunicação e artes no Brasil. Como uma tendência mundial, a fotografia cada vez mais garantindo seu lugar no mundo e nas artes; a pinhole é talvez dentro da técnica fotográfica quem melhor expresse um sentido autoral e artístico. Ela também vai adquirindo um caráter social importante, sendo usada como uma atividade que agrega valores culturais, através de eventos comunitários como cursos, palestras, oficinas, exposições, etc.... Existe hoje no Brasil uma série de projetos onde a fotografia pinhole está inserida, seja na arte, nas atividades acadêmicas, sociais e científicas.
No campo da arte, como fotógrafo e artista visual, tenho sempre buscado na pinhole minha forma de expressão, sendo eu um dos poucos a utilizá-la sistematicamente. Outros artistas, tais como Neide Jallageas e Paulo Angerami de São Paulo, Miguel Chicaoka e Dirceu Maués no Pará, também estão sempre presentes, desenvolvendo trabalhos e divulgando essa fotografia.
Apesar de discreto, existem vários grupos atuantes e interessados nessa fotografia. A Internet favoreceu enormemente esses contatos, possibilitando a troca de informações e globalizando o conhecimento. Existem hoje na rede, centenas de sites sobre fotografia alternativa pinhole (ou estenopeica). Os contatos, automaticamente foram feitos, surgindo assim os grupos, os fóruns de debates e as comunidades específicas dessa fotografia. Foi criado até o Dia Internacional da Fotografia Pinhole, o Pinhole Day (já em sua sexta edição) que é comemorado sempre no último domingo do mês de abril. Nesta data, em todo o mundo (inclusive no Brasil), acontecem eventos onde as pessoas são levadas a fotografar com uma câmera pinhole e essas são posteriormente enviadas e divulgadas no site www.pinholeday.org. É uma grande festa.
Em resumo: a fotografia alternativa brasileira (estenopeica ou pinhole, como é mais conhecida) vem aos poucos garantindo seu lugar, graças a sua presença na educação. Num país como o Brasil, onde a leitura se resume em revistas e jornais, a opção eletrônica (site) tem um poder mais abrangente e garantido.
Imagens Tubulares - 2001
Esta série fotográfica p&b é fruto de uma pesquisa que busca, através de uma câmera estenopeica, desenvolver experimentos para obtenção de imagens que eu denominei “tubulares”. As “imagens tubulares” são registros de cenas variadas onde, a rigor, não existe nenhum compromisso temático. A unidade destas fotografias está em suas características singulares; o processo alternativo que utiliza uma simples câmera sem lente (câmera estenopeica, também conhecida como “pinhole”) e sua própria estética resultante.
O fator diferencial desta mostra em pinhole está também no registro incomum de imagens que muitas vezes chegam à 360 graus. Uma visão supra-real gerada de forma tubular em consequencia da disposição do negativo dentro da câmara. Outro ponto importante a ser referido, trata da questão do aleatório; da imprevisibilidade da composição ( já que a câmera pinhole não possui um visor de enquadramento) e do jogo lúdico que compreende o fazer fotográfico. A fotografia aqui assume um papel que transcende à sua própria existência enquanto imagem. Ela se torna um mecanismo gerador de indagações.
Entrevista para a jornalista Patrícia Benetti - 2007
Belo Horizonte, sol a pino. As pessoas andam rapidamente, talvez muito ocupadas para perceberem o que se passa nos arredores. Um homem, carregando dois sacos pretos nas costas, analisa atentamente a paisagem com um olhar de criança, como se fosse a primeira vez em que se encontrasse naquele meio urbano, caótico e barulhento. Ele caminha para cá, para lá. Parece não ter pressa. Coloca os dois sacos no chão, retira pequenas latas. Olha para um ponto fixo. Escolhe uma latinha, ajustando-a. Consulta o relógio várias vezes. Enquanto os cidadãos circulam agitados pelas ruas, ele está absorto. Depois de algum tempo, olha o relógio pela última vez. Limpa o suor, recolhe as latas e parte.
Esse é o retrato de mais um dia de trabalho de Cléber Augusto Fernandes Falieri, 46 anos, fotógrafo há mais de 10 anos no do Departamento de Fotografia, Teatro e Cinema da Escola de Belas Artes/UFMG.
Criador/idealizador do primeiro site sobre câmera de orifício em língua portuguesa, Cléber diz que o Manual Prático de Fotografia Pinhole (http://www.eba.ufmg.br/cfalieri/index.html) era um projeto para livro, mas com o surgimento da web acabou se transformando em um site, o pioneiro nesse assunto.
Pinhole é um processo alternativo de produção fotográfica, no qual não são necessários muitos recursos. Basta um ambiente vedado de luz - latas de leite em pó, caixas de sapatos e, quem diria, até mesmo um pimentão - com um pequeno furo, algum material fotossensível e elementos para revelação. O termo em inglês Pinhole ou Pin-Hole, traduzido como “buraco de agulha”, foi criado no século 19 por David Brewster, um cientista escocês, possivelmente o primeiro a fazer imagens fotográficas com uma câmera escura.
Conhecida também como câmera estenopéica, esse processo sem o tradicional aparato tecnológico, envolve o fotógrafo desde a criação da câmera até a revelação. “A câmera, a partir dessas novas experiências, não é mais uma parte do processo de produção fotográfica, mas aquilo que o determina. Isso por dois motivos principais: primeiro, porque a relação homem-máquina deixa de ser apenas um elo da corrente capitalista; segundo, porque a presença dela no momento da captura da imagem desconstrói o mito da fotografia como representação objetiva da realidade. Explorando mais essas possibilidades, a ligação da pinhole com atividades de reaproveitamento de materiais é evidente. Caixas de papelão, latas enferrujadas, pedaços de madeira cascas de ovos: tudo pode se transformar em uma câmera pinhole, ficando evidente uma característica muito forte da técnica: a reciclagem. Isso rompe com a estrutura capitalista que determina a produção imagética.” (Fábio Goveia)
De onde veio sua paixão pela fotografia?
Minha paixão pela fotografia foi ainda na infância, mas a minha relação afetiva com ela só veio de verdade quando eu, aos 22 anos, cursando artes plásticas na Escola Guignard, tive a oportunidade de utilizar o laboratório da escola e aprender muito.
Com tanta tecnologia disponível e novas técnicas que permitem atingir boa qualidade em pouco tempo, por que você decidiu escolher a câmera de pinhole?
Minha decisão é anterior a essas novas tecnologias, quando ainda a tecnologia da fotografia se limitava ao filme . Além do mais, a questão não é a busca de uma melhor qualidade da imagem. Qualidade no meu ponto de vista não depende do novo. A fotografia através da ótica da pinhole nos permite uma interação com todo o processo da criação fotográfica. É uma experiência lúdica, no qual podemos despertar nossos conceitos visuais, aguçando o nosso olhar. Uma imagem fotográfica captada através de um pinhole tem personalidade
A partir de que momento passou a se interessar por essa técnica?
Na Guignard, redescobri a fotografia pinhole que meu avô já fazia e que a gente admirava. Não deu outra. Ao rever tudo aquilo, eu também quis experimentar. Apaixonei-me de cara quando revelei minha primeira imagem. Quando comecei a fazer disciplina de fotografia básica, logo de início, no primeiro semestre do curso consegui bons resultados. Fiz uma série com mais de 50 imagens da cidade de Belo Horizonte, o que me valeu a primeira participação em um salão de artes plásticas. Como artista, utilizando essa técnica, fui cada vez mais me interessado pelo leque de possibilidades que a pinhole oferece.
E qual é esse leque de possibilidades?
Refiro-me aos diversos formatos, às infinitas possibilidades de produzir imagens através do pinhole, sejam elas feitas em câmeras artesanais ou adaptadas a equipamentos. Nos diversos conceitos em que estas imagens podem ser geradas e também nas suas aplicações - seja enquanto fotografia pura ou como imagem em transformação. Seja na fotografia, no cinema, nas artes plásticas e gráficas e nas chamadas mídias imediatas. Há também que ser lembrado os projetos de cunho social e educacional, nos quais a pinhole sempre se mostrou como um bom recurso de conscientização.
A fotografia artesanal em pinhole é usada em muitos eventos educacionais como Projeto Morrinho, expostas na 27ª Bienal de São Paulo, o Grupo Lata Mágica do Rio Grande do Sul que oferece oficinas em hospitais, escolas além projetos de inclusão social como Luz reveladora - Photo da lata, que ministra em comunidades carentes do RS e premiado pela Unesco em 2003. De que maneira a câmera pode participar como formação de consciência de cidadania e educadora do olhar?
Acredito que a pinhole agrega diversas ferramentas para isso. Ela leva de maneira lúdica e atraente o conhecimento sobre a imagem como um fenômeno natural. Ela ensina e aguça o olhar, sensibilizando o indivíduo para questões relativas àquilo que ele busca registrar. Ela também proporciona um canal de expressão e reflexão de diversos olhares e uma forma de comunicação visual.
Numa época em que a imagem digital domina o mercado é no mínimo curioso observar o interesse pela fotografia artesanal, utilizando uma técnica já descrita por Leonardo da Vinci no renascimento.
A razão está justamente aí no brinquedo, na brincadeira. O resultado em relação ao processo digital é bem mais interessante porque envolve a surpresa, a expectativa do resultado, somada a toda trajetória lúdica de construção da câmera, as experiências em laboratório e no ato de fotografar.
No próximo dia 29 de abril ocorrerá o WorldWide Pinhole Day, evento criado para promover a arte da fotografia pinhole. Qual é a importância desse dia?
O dia mundial da fotografia pinhole foi criado em 2001 pelo fotógrafo norte-americano Gregg Kemp e está em sua oitava edição, sempre celebrado no último domingo de abril. No ano passado, o Pinhole Day aconteceu simultaneamente em mais 60 países. Trata-se de um evento aberto que incentiva a participação de todos, seja por iniciativas individuais ou coletivas, disponibilizando uma galeria virtual com uma foto por participante. No site, podemos encontrar todas as fotos produzidas desde 2001 assim como obter informações sobre os eventos regionais, tais como oficinas, palestras e exposições.
Há quanto tempo você participa do Pinhole Day e como será sua participação nesse dia?
Em Belo Horizonte, desde 2004, organizamos oficinas e mostras fotográficas através da Escola de Belas Artes. Nossa proposta consiste em ensinar a construção de câmeras, organizar saídas fotográficas pela região onde acontecem as oficinas e arredores, vivência no laboratório, apresentação de objetos óticos lúdicos e bate-papos em torno da produção, exposições com os participantes e artistas convidados. Para este ano, vamos nos concentrar nas oficinas e nas palestras, deixando a exposição, possivelmente para agosto, comemorando o Dia Internacional da Fotografia. Somos um grupo de 5 fotógrafos organizadores e contamos com mais 10 monitores.
Qual é a dimensão desse evento?
Em 2006, uma média de 2 a 3 mil pessoas participaram desse evento realizado simultaneamente em 60 países. Do Brasil, presente na exposição do PD do ano passado, foram 114 pessoas, mas se levarmos em conta aqueles que não chegaram a enviar suas imagens para o site, com certeza, pelo menos aqui em Belo Horizonte, teríamos mais 200 pessoas. Para este ano esperamos um público de pelo menos 500 pessoas.
Esse é o retrato de mais um dia de trabalho de Cléber Augusto Fernandes Falieri, 46 anos, fotógrafo há mais de 10 anos no do Departamento de Fotografia, Teatro e Cinema da Escola de Belas Artes/UFMG.
Criador/idealizador do primeiro site sobre câmera de orifício em língua portuguesa, Cléber diz que o Manual Prático de Fotografia Pinhole (http://www.eba.ufmg.br/cfalieri/index.html) era um projeto para livro, mas com o surgimento da web acabou se transformando em um site, o pioneiro nesse assunto.
Pinhole é um processo alternativo de produção fotográfica, no qual não são necessários muitos recursos. Basta um ambiente vedado de luz - latas de leite em pó, caixas de sapatos e, quem diria, até mesmo um pimentão - com um pequeno furo, algum material fotossensível e elementos para revelação. O termo em inglês Pinhole ou Pin-Hole, traduzido como “buraco de agulha”, foi criado no século 19 por David Brewster, um cientista escocês, possivelmente o primeiro a fazer imagens fotográficas com uma câmera escura.
Conhecida também como câmera estenopéica, esse processo sem o tradicional aparato tecnológico, envolve o fotógrafo desde a criação da câmera até a revelação. “A câmera, a partir dessas novas experiências, não é mais uma parte do processo de produção fotográfica, mas aquilo que o determina. Isso por dois motivos principais: primeiro, porque a relação homem-máquina deixa de ser apenas um elo da corrente capitalista; segundo, porque a presença dela no momento da captura da imagem desconstrói o mito da fotografia como representação objetiva da realidade. Explorando mais essas possibilidades, a ligação da pinhole com atividades de reaproveitamento de materiais é evidente. Caixas de papelão, latas enferrujadas, pedaços de madeira cascas de ovos: tudo pode se transformar em uma câmera pinhole, ficando evidente uma característica muito forte da técnica: a reciclagem. Isso rompe com a estrutura capitalista que determina a produção imagética.” (Fábio Goveia)
De onde veio sua paixão pela fotografia?
Minha paixão pela fotografia foi ainda na infância, mas a minha relação afetiva com ela só veio de verdade quando eu, aos 22 anos, cursando artes plásticas na Escola Guignard, tive a oportunidade de utilizar o laboratório da escola e aprender muito.
Com tanta tecnologia disponível e novas técnicas que permitem atingir boa qualidade em pouco tempo, por que você decidiu escolher a câmera de pinhole?
Minha decisão é anterior a essas novas tecnologias, quando ainda a tecnologia da fotografia se limitava ao filme . Além do mais, a questão não é a busca de uma melhor qualidade da imagem. Qualidade no meu ponto de vista não depende do novo. A fotografia através da ótica da pinhole nos permite uma interação com todo o processo da criação fotográfica. É uma experiência lúdica, no qual podemos despertar nossos conceitos visuais, aguçando o nosso olhar. Uma imagem fotográfica captada através de um pinhole tem personalidade
A partir de que momento passou a se interessar por essa técnica?
Na Guignard, redescobri a fotografia pinhole que meu avô já fazia e que a gente admirava. Não deu outra. Ao rever tudo aquilo, eu também quis experimentar. Apaixonei-me de cara quando revelei minha primeira imagem. Quando comecei a fazer disciplina de fotografia básica, logo de início, no primeiro semestre do curso consegui bons resultados. Fiz uma série com mais de 50 imagens da cidade de Belo Horizonte, o que me valeu a primeira participação em um salão de artes plásticas. Como artista, utilizando essa técnica, fui cada vez mais me interessado pelo leque de possibilidades que a pinhole oferece.
E qual é esse leque de possibilidades?
Refiro-me aos diversos formatos, às infinitas possibilidades de produzir imagens através do pinhole, sejam elas feitas em câmeras artesanais ou adaptadas a equipamentos. Nos diversos conceitos em que estas imagens podem ser geradas e também nas suas aplicações - seja enquanto fotografia pura ou como imagem em transformação. Seja na fotografia, no cinema, nas artes plásticas e gráficas e nas chamadas mídias imediatas. Há também que ser lembrado os projetos de cunho social e educacional, nos quais a pinhole sempre se mostrou como um bom recurso de conscientização.
A fotografia artesanal em pinhole é usada em muitos eventos educacionais como Projeto Morrinho, expostas na 27ª Bienal de São Paulo, o Grupo Lata Mágica do Rio Grande do Sul que oferece oficinas em hospitais, escolas além projetos de inclusão social como Luz reveladora - Photo da lata, que ministra em comunidades carentes do RS e premiado pela Unesco em 2003. De que maneira a câmera pode participar como formação de consciência de cidadania e educadora do olhar?
Acredito que a pinhole agrega diversas ferramentas para isso. Ela leva de maneira lúdica e atraente o conhecimento sobre a imagem como um fenômeno natural. Ela ensina e aguça o olhar, sensibilizando o indivíduo para questões relativas àquilo que ele busca registrar. Ela também proporciona um canal de expressão e reflexão de diversos olhares e uma forma de comunicação visual.
Numa época em que a imagem digital domina o mercado é no mínimo curioso observar o interesse pela fotografia artesanal, utilizando uma técnica já descrita por Leonardo da Vinci no renascimento.
A razão está justamente aí no brinquedo, na brincadeira. O resultado em relação ao processo digital é bem mais interessante porque envolve a surpresa, a expectativa do resultado, somada a toda trajetória lúdica de construção da câmera, as experiências em laboratório e no ato de fotografar.
No próximo dia 29 de abril ocorrerá o WorldWide Pinhole Day, evento criado para promover a arte da fotografia pinhole. Qual é a importância desse dia?
O dia mundial da fotografia pinhole foi criado em 2001 pelo fotógrafo norte-americano Gregg Kemp e está em sua oitava edição, sempre celebrado no último domingo de abril. No ano passado, o Pinhole Day aconteceu simultaneamente em mais 60 países. Trata-se de um evento aberto que incentiva a participação de todos, seja por iniciativas individuais ou coletivas, disponibilizando uma galeria virtual com uma foto por participante. No site, podemos encontrar todas as fotos produzidas desde 2001 assim como obter informações sobre os eventos regionais, tais como oficinas, palestras e exposições.
Há quanto tempo você participa do Pinhole Day e como será sua participação nesse dia?
Em Belo Horizonte, desde 2004, organizamos oficinas e mostras fotográficas através da Escola de Belas Artes. Nossa proposta consiste em ensinar a construção de câmeras, organizar saídas fotográficas pela região onde acontecem as oficinas e arredores, vivência no laboratório, apresentação de objetos óticos lúdicos e bate-papos em torno da produção, exposições com os participantes e artistas convidados. Para este ano, vamos nos concentrar nas oficinas e nas palestras, deixando a exposição, possivelmente para agosto, comemorando o Dia Internacional da Fotografia. Somos um grupo de 5 fotógrafos organizadores e contamos com mais 10 monitores.
Qual é a dimensão desse evento?
Em 2006, uma média de 2 a 3 mil pessoas participaram desse evento realizado simultaneamente em 60 países. Do Brasil, presente na exposição do PD do ano passado, foram 114 pessoas, mas se levarmos em conta aqueles que não chegaram a enviar suas imagens para o site, com certeza, pelo menos aqui em Belo Horizonte, teríamos mais 200 pessoas. Para este ano esperamos um público de pelo menos 500 pessoas.
Fotografia
A fotografia, desde a sua existência, vem exercendo um importante papel na vida do homem. Substituta inquestionável de antigas técnicas de retratação e registro, ela revolucionou a maneira do homem de encarar o mundo. Sua função hoje é ainda mais abrangente. A fotografia contribui para as Ciências e para as Artes, seja enquanto meio de informação, seja enquanto meio de expressão artística do homem.
A fotografia em pinhole é talvez a forma mais pura desta expressão.
A fotografia em pinhole é talvez a forma mais pura desta expressão.
Porque Pinhole
A fotografia pinhole está presente em minha vida desde a infância.Minha primeira descoberta, início de tudo, foi a câmara escura. Em meu quarto, pelas manhãs ao acordar, eu me deparava surpreso e ao mesmo tempo curioso com aquela imagem projetada no teto. Eu ainda na cama, no quarto escuro, numa câmara escura... me perguntavacomo aquilo era possível. Foi assim que tudo começou. Meu interesse cresceu ainda mais, quando através de meu avô, vim a entender melhor este fenômeno ótico, construindo minhas primeiras câmeras de latinhas. O tempo foi passando e mais tarde, já na universidade, retomei meu contato com a pinhole e desde então não parei mais de fotografar. A pinhole me oferece possíbilidades que nunca conseguiria como um equipamento convencional. E talvez, o que mais me atrai nela é o fator surpresa, a fotografia sem compromisso e a sua simplicidade. O trabalho que apresento é um pouco fruto desta visão. São ainda esboços para uma pesquisa onde procuro questionar a imagem na essência supra-real de sua projeção, através do resgistro desta, em superfícies tubulares.
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